A sessão da Câmara de Vereadores de Jaraguá do Sul foi marcada por um forte embate entre parlamentares da base governista e a vereadora Sirley Shappo (NOVO).

O debate teve início após a vereadora questionar uma possível interferência política na nomeação de cargos comissionados pelo Executivo. Sua fala provocou reações imediatas de colegas, gerando um clima de tensão no plenário.

Sirley apontou a demora do Executivo em nomear cargos de segundo escalão e sugeriu que vereadores da base poderiam estar pressionando a prefeitura para que candidatos não eleitos e outros indicados políticos fossem nomeados em cargos estratégicos. A parlamentar argumentou que essas vagas deveriam ser ocupadas por servidores de carreira, levantando dúvidas sobre possíveis acordos políticos em torno das nomeações.

"Por que aí me fica a pergunta de que adianta a boa vontade do prefeito e do vice-prefeito, que por inúmeras vezes disseram que iam analisar critérios técnicos, os currículos, e que iam valorizar o servidor público de carreira, e agora estes sendo pressionados pelos partidos aliados para colocar nos cargos comissionados aqueles que disputaram as eleições e perderam? Para que isso? Para que essa pressão? Em troca de quê? Eu sinceramente espero que não seja em troca de apoio dos seus vereadores aqui na Câmara, que queiram fazer o que a gente já viu em vários outros níveis, de travar os projetos da Câmara e não deixar o Executivo trabalhar, porque se não colocarem determinadas pessoas nos setores que querem que coloque, se não arrumarem o cargo para o cara que participou da eleição ou para o apadrinhado de determinado partido, que aí os vereadores desses partidos coligados comecem a boicotar o Executivo, não pautando os projetos que são de importância do Executivo, não deixando o Executivo trabalhar. Eu espero muito sinceramente que isso não aconteça na Câmara de Vereadores de Jaraguá do Sul." - Vereadora Sirley Shappo

A manifestação da vereadora gerou respostas indignadas por parte de vereadores da base aliada. O presidente da Câmara, Luis Fernando Almeida (MDB), afirmou que as declarações de Sirley "colocam em xeque a autonomia da Casa" e "beiram o mau caratismo", ressaltando que cada parlamentar é responsável por seus atos e que a prefeitura tem autonomia para tomar suas decisões.

"Mas eu tenho que me posicionar pela fala no sentido de atribuir a esta presidência o engessamento, o bloqueio da tramitação dos projetos desta casa e também de atribuir a esta casa um sentimento de pressão, de posicionamento ao Executivo, no sentido de nomeações. Esta fala da senhora, do Exeredor Asilei, com todo o respeito, e eu falo isso de coração, com todo o respeito, coloca em xeque a questão do direito à autonomia desta casa, coloca em xeque o caráter de todos os vereadores que compõem esta casa e, demais, eu digo, desvaloriza o poder legislativo local. O prefeito é quem detém a caneta e esta casa, cada um é responsável pelos seus atos. Mas eu peço, vereadora, com a maior tranquilidade possível e de forma transparente e serena neste momento, o respeito, o respeito ao afirmar que partidos A, partidos B, vereadores desta casa estão agindo desta forma, porque isso beira, vereadora, ao mau caratismo." - Luis Fernando Almeida

Outro a se manifestar foi o vereador Delegado Mioto (UB), que expressou repulsa e indignação, afirmando que não admitiria questionamentos sobre sua índole e seu caráter. O parlamentar criticou insinuações feitas em outros momentos, quando se sugeriu que haveria esquemas políticos dentro da Câmara, incluindo um possível processo de impeachment do prefeito e supostas práticas de rachadinha.

"Eu acho que não é a primeira vez que acontece, eu nunca me manifestei referente a isso, mas uma coisa que me causa uma repulsa, uma indignação, porque eu acho que todo mundo aqui tem caráter, todo mundo aqui tem família, todo mundo aqui é pai, mãe, é filho, e não é a primeira vez que isso acontece. Num outro momento fizeram insinuações de que aqui dentro ocorria um esquema político, de que aqui dentro queria a cabeça do prefeito numa tigela num processo de impeachment, que aqui dentro iria se fazer rachadinha, e tudo agora com o tempo mostra-se que é toda uma ilacão. Tá na hora da gente parar aqui com esse tipo de... Eu não digo de conversa, a conversa sempre é válida, mas a maneira como ela é conduzida. Cada um é responsável por representar, os seus eleitores confiaram na gente pra gente estar aqui, e ninguém tá aqui pra brincadeira. Eu não vou admitir que ninguém faça qualquer tipo de insinuação sobre o meu caráter, sobre a minha índole, sobre como eu trabalho aqui dentro. Mas eu acho que ninguém votou na gente pra ficar escutando esse tipo de conversa aqui dentro." - Delegado Mioto

Já o vereador Israel Cani (PL) classificou a fala de Sirley como "perigosa", destacando que trechos retirados de contexto podem distorcer a realidade e gerar interpretações equivocadas.

"Achei que a senhora foi muito perigosa na sua fala, assim como em outros episódios, porque uma fala recortada pode falar muitas mentiras e muitas inverdades. [...] Ei, nem todo mundo sai pra política pra ser bandido e pra ser chamado de catrégua. Nós temos aqui homens sérios, e no Brasil existem muitos políticos sérios, e não somente o do NOVO são sérios, porque vocês são pessoas sérias." - Israel Cani

O episódio evidencia um clima de tensão política na Câmara de Jaraguá do Sul, refletindo disputas internas e possíveis impactos na governabilidade municipal.