No Brasil, ser negro ainda é carregar um fardo invisível, mas mortal.

Por: Alison Correa

É nascer com o peso da desigualdade cravado na pele, uma desigualdade que se manifesta na vida cotidiana, no mercado de trabalho, na educação — e, de forma brutal, na violência.

O último Atlas da Violência 2025 não traz apenas números frios. Ele traz o eco de milhares de vozes silenciadas. Em 2023, 35.213 pessoas negras foram assassinadas no país — uma queda quase imperceptível de 0,9% em relação ao ano anterior.

Para quem busca esperança, esse dado pode parecer um sopro tímido. Mas a verdade que ele revela é dura: essa queda é insuficiente diante do tamanho da tragédia.

Enquanto isso, os homicídios entre pessoas não negras caíram 2,9%. A diferença é mais do que estatística: é uma sentença que escancara a disparidade racial e social que persiste há séculos no Brasil.

Ser negro no Brasil significa enfrentar uma realidade onde o risco de ser assassinado é 2,7 vezes maior do que para uma pessoa não negra. É viver sob uma sombra constante, onde a cor da pele muitas vezes define se a sua vida será preservada ou ceifada.

As regiões do país refletem essa desigualdade de formas distintas. O Sudeste, coração econômico do Brasil, viu os homicídios de pessoas negras crescerem 3,8% entre 2022 e 2023 — um aumento que deveria ser motivo de alarme para todos.

Já o Centro-Oeste mostra que a mudança é possível, com uma queda de 46,2% nos últimos dez anos. No Nordeste, a redução foi quase imperceptível, de apenas 5%, lembrando que o combate à violência racial ainda enfrenta barreiras profundas.

O Amapá é um capítulo à parte nessa história. A taxa de homicídios de pessoas negras por 100 mil habitantes saltou de 48,8 para 70,2 em apenas um ano — um aumento de 43,9%.

Um número que deveria estar longe da nossa realidade, mas que nos chama a atenção para a urgência de políticas públicas eficazes e comprometidas com a vida.

sses números não são simples estatísticas. São vidas interrompidas, histórias de sonhos e projetos destruídos, famílias marcadas pela ausência, comunidades que carregam o medo como companhia diária.

São jovens que saem de casa e nunca mais voltam, são mães que enterram filhos, são cicatrizes abertas na sociedade brasileira.

Por trás desses dados, há um grito por justiça que ecoa há séculos e que não pode mais ser ignorado. A violência contra a população negra no Brasil não é acidente ou fatalidade: é resultado direto do racismo estrutural que permeia nossas instituições, políticas e nossa cultura.

É preciso enfrentar essa realidade com coragem, empatia e determinação. A segurança pública, a educação antirracista, a inclusão social e a valorização da vida negra precisam estar no centro das políticas do país.

No Blog do Alison, nossa missão é dar voz a essas histórias, trazer luz para o que muitas vezes é deixado nas sombras e provocar reflexões que possam ajudar a transformar essa realidade.

Porque a luta pela vida negra não é apenas uma luta de um grupo — é uma luta de toda a sociedade por justiça, igualdade e dignidade.